Investidor Bipolar: conservador no ganho, agressivo na perda

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Investidor Bipolar: Agressivo ou Conservador?

Uma curiosidade muito notada por estudiosos de finanças comportamentais é o fato de pessoas reagirem de maneira diferenciada ao experimentar situações de ganho ou perda de mesma magnitude.

Pode até parecer estranho em um primeiro momento, mas estudos comprovam que o ser humano fica muito mais insatisfeito ao perder R$ 1.000 do que satisfeito ao ganhar R$ 1.000.

Este comportamento é ainda mais intenso entre os brasileiros, pois possuímos um custo de oportunidade muito grande, ou seja, já possuímos ganhos razoáveis sem correr grandes riscos.

Outro comportamento muito curioso, que é mais notável no mercado de compra e venda de ações, refere-se ao fato do investidor manter posições perdedoras e se desfazer das ganhadoras.

Muitas vezes até se troca uma ação que subiu de preço por uma que o preço caiu, acreditando que não se deve realizar prejuízo e sim realizar lucro. Assim como nosso ex-presidente, posso fazer uma simples comparação deste comportamento com o futebol. Seria equivalente a substituir o Pelé (uma ação ganhadora) por um perna-de-pau qualquer (uma ação perdedora). Se isto acontecesse, qual seria o efeito em meu time (carteira de ações)?

Estes e outros aspectos caracterizam o viés de aversão a perdas (loss aversion bias) no qual as pessoas tendem a ser mais agressivas e focar no longo prazo quando perdem dinheiro, mas tendem a ser mais conservadoras e realizar/liquidar a posição muito mais rapidamente quando ganham dinheiro.

O que devo fazer então?

Quer dizer que se a ação subir eu devo comprar mais e se a ação cair eu devo imediatamente vendê-la? Não necessariamente.

  • É preciso analisar o real motivo que ocasionou a valorização ou não de tal ação. Após entendido e analisado, deve-se esquecer o passado e considerar o futuro e o potencial de valorização que esta ação tem. Muitas vezes o ambiente macroeconômico “puxou” a ação para cima ou para baixo e muitas vezes alguma decisão dos executivos da empresa (embora acertada) foi mal interpretada pelos investidores.
  • Outro aspecto muito importante é o prazo de investimento. No longo prazo, empresas sólidas, fundos de investimentos de gestores competentes e imóveis bem localizados e construídos vão se valorizar, mesmo que sofram turbulências no meio do caminho. A verdade é que as turbulências no meio do caminho se transformam em oportunidades para os investidores mais experientes.
  • Como visto no artigo sobre viés de retrospectiva, lembre-se qual foi o real motivo para você ter comprado aquela ação e se ele ainda existe.
  • Anote as razões para acerto ou erro e analise racionalmente o resultado.
  • Mantenha a disciplina referente ao prazo inicial estipulado e não se desespere. Lembre-se que muita coisa pode ter mudado no meio do caminho.

Tenho certeza que esta disciplina com um pouco de auto-crítica vai lhe ajudar a tomar decisões melhores no futuro.

Vitor Nagata é editor do Blog do Investidor e profissional da área de investimentos.

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5 COMMENTS

  1. O exemplo do futebol é bastante oportuno, mas também é importante fazer análises num prazo adequado e não usar generalizações às cegas.
    Funciona bem quando falamos: “vou reduzir minha carteira de ações, pois não estou confortável com as perspectivas para os próximos trimestres” e queremos segurar apenas o que está perdendo, pra “não realizar prejuízo”, mas é completamente diferente de quando fazemos a análise de uma ação pensando num investimento de vários anos e, apresentando uma queda na semana seguinte após o início da operação, já queremos fechar a posição com base estritamente nesse argumento.

  2. […] A divergência entre uma promessa para o futuro e a decisão no presente que tornam a disciplina tão difícil. Quantas vezes você jurou que não faria mais o trabalho da faculdade na última hora? E que nunca mais beberia? E que começaria o regime na segunda-feira? E que pouparia mais no próximo mês? Quantas vezes você comprou uma ação ou fez qualquer outro tipo de investimento para o longo prazo (mais de 5 anos), mas resgatou na primeira queda? […]

  3. […] A divergência entre uma promessa para o futuro e a decisão no presente que tornam a disciplina tão difícil. Quantas vezes você jurou que não faria mais o trabalho da faculdade na última hora? E que nunca mais beberia? E que começaria o regime na segunda-feira? E que pouparia mais no próximo mês? Quantas vezes você comprou uma ação ou fez qualquer outro tipo de investimento para o longo prazo (mais de 5 anos), mas resgatou na primeira queda? […]