Viés de confirmação: Quando a hipótese é a inimiga da informação

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“Se procurarmos por informações que confirmem o que acreditamos ser o correto, nós vamos encontrar, independentemente de ser realmente correto ou não”

“Tendemos a acreditar naquilo em que queremos acreditar, não naquilo que a evidência aponta”

As frases acima definem resumidamente o famoso viés de confirmação (confirmation bias), causador dos mais diversos erros em tomadas de decisões e direcionamento de pesquisas.

Uma decisão muitas vezes já foi tomada antes do início de sua pesquisa. E tal pesquisa foi simplesmente realizada para confirmar o que já se sabia, ou pelo menos se suspeitava.

Isto acontece devido ao comportamento do ser humano, que é o de acreditar no que se quer acreditar, e não necessariamente naquilo que a evidência demonstra.

Os jornalistas, que muitas vezes são formadores de opiniões, são campeões nisso. Quando eles escrevem um artigo sobre algum determinado assunto polêmico, muitas vezes entrevistam os maiores experts no assunto que corroboram da mesma opinião que eles, para assim sustentar sua visão.

Quantos especialistas em energia nuclear agora criticam na televisão as usinas após o desastre do tsunami no Japão? E quantos pararam para pensar o que aconteceria em um terremoto daquela magnitude em uma usina hidrelétrica como a Itaipu?

Sabem quais são alguns dos maiores vilões do viés de confirmação no mundo moderno? O Google e o Yahoo Respostas, bem como outros fóruns de discussão e sites que compilam opinião de seus frequentadores.

Quantas vezes você pesquisou alguma coisa na internet (Ex.: É verdade que manga com leite faz mal? O homem nunca chegou na Lua?) e achou exatamente o que procurava em uma página, e assim sustentou que aquilo era verdade, sem nem ter ideia da fonte ou se a informação era real, ou mesmo se tinha uma página logo abaixo desmentindo todo esse fato?

O viés de confirmação também tem um papel importante na briga de casais (quem procura, acha) e até no diagnóstico médico (todos se consideram entendidos em medicina e chegam na consulta com um pré-auto-diagnóstico que dificulta a vida do médico).

Não podemos esquecer também do horóscopo e de videntes de plantão (quem acredita em astrólogos e cartomantes leva em conta apenas as “previsões” que se tornam verdade, e ignora as que não acontecem).

A estatística é muitas vezes esquecida neste tipo de comportamento, ou seja, o prazer de ter razão sobre determinado assunto prevalece sobre argumentos e informações, e até sobre a lógica.

Todos já devem ter visto generalizações oriundas de amostras pequenas: Duas pessoas vestidas da mesma maneira? É moda. Dois acidentes que aconteceram no mesmo lugar? O lugar é inseguro. Dois restaurantes na Bahia têm atendimento demorado? Todo nordestino é preguiçoso. Duas pessoas do Rio Grande do Sul são homossexuais? Todos os gaúchos são homossexuais. Duas mulheres batem o carro? Mulher no volante, perigo constante. E por aí vai…

É o prazer da confirmação de um preconceito ou hipótese. Ou, melhor ainda, é uma forma de não assumir que a sua opinião inicial estava errada, um defeito natural do ser humano de não reconhecer seus erros.

E qual a relação disso com investimentos?

No caso de decisões de investimento, este viés implica na tendência de procurarmos somente informações que confirmem nossas (pré) decisões de investimento e que não contrariem nossa visão e cenário.

Ao acreditarmos em uma queda na bolsa, procuramos todas as informações possíveis que sustentem este fato, para daí tomar uma decisão de vender nossas ações. Se por acaso encontrarmos informações opostas, isto é, que a economia vai muito bem, não tomaremos a decisão oposta (comprar as ações). Procuraremos ainda mais até achar as informações negativas que queremos. Se, no final das contas, acertarmos, utilizaremos o viés de retrospectiva para sustentar ainda mais nosso viés de confirmação: “Não disse?!”

Este raciocínio também é aplicado na decisão da compra de ações de uma determinada empresa. A decisão de comprar já foi tomada inicialmente pelas mais diversas razões (empatia com a empresa, ouviu falar de alguém que a empresa era boa, e etc.) e pode até ser acertada, mas o investidor procurará informações que confirmem esta hipótese, e com certeza encontrará. Nesse meio tempo, todas as informações que contrariam a hipótese inicial são ignoradas, assim como os argumentos.

Nós sabemos que as decisões, principalmente em relação a investimento, não deveriam ser afetadas por impulsos ou emoções, mas elas são. Sucessos ou fracassos não são um indicativo de que a decisão foi tomada de forma racional ou irracional.

E como evitar este tipo de erro nos investimentos?

Uma das formas de prevenirmos que decisões sejam afetadas pelas emoções é tentarmos manter nosso lado racional o mais ativo possível.

Sempre é necessário questionar diversas vezes o motivo real da tomada de decisões e aprender com erros e acertos.

Para isso organize-se e anote na hora os principais motivos que o levaram a tomar aquela decisão e avalie o resultado após tais motivos se concretizarem ou não.

Com um pouco de disciplina, mais uma vez podemos tomar decisões melhores, e aprender com elas.

 Vitor Nagata é editor do Blog do Investidor e profissional da área de investimentos.

 

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8 COMMENTS

  1. É interessante ver como não há misticismo no mercado financeiro. Ele nada mais é do que um reflexo das reações naturais do ser humano, como, nesse post, o desejo de querer confirmar aquilo que acreditamos, como os exemplos dados com relação ao horóscopo, diagnóstico de médicos e etc.

    • Eu confesso que sempre procuro muitas informações de saúde na internet antes de conversar com um médico. Apesar de não ser tão negativo assim em um primeiro momento, acaba criando um certo direcionamento na hora da consulta.

  2. Vitor,

    Acredito que temos a tendência de “racionalizar” tudo baseado no que conhecemos e nem sempre temos capacidade de enxergar que a história e a estatística estão nos mostrando outra realidade, pois acreditamos no mundo como o vemos e nem sempre temos a capacidade de olhar além do que já nos é conhecido.

    • É uma questão de praticidade: é muito mais fácil aceitar os pré-conceitos/preconceitos que temos de tudo, do que encararar a dura realidade e entender o real motivo das coisas acontecerem.

  3. Então você está me dizendo para não ser eu mesmo na hora de investir, para tomar decisões que contrariam minhas próprias cresças, e além disso você quer que eu reconheça meus erros de tomada de decisões? Muito difícil esse tal de investimentos pessoais, acho que vou aplicar meu dinheiro em algum fundo mesmo… rsrs abs