Cartão de crédito com milhas ou sem anuidade: Qual é melhor?

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Hoje é difícil encontrar alguém que não possua cartão de crédito. E também é recorrente a discussão sobre acúmulo de milhas, que muitas vezes é considerado um benefício gratuito dos cartões.

Apesar de parecer óbvio, será que sempre faz sentido acumular milhas?

Inicialmente o cartão de crédito foi criado para permitir que clientes do banco mais confiáveis fizessem compras e pagassem depois.

Hoje o propósito inicial não é mais o motivo principal pelo qual as pessoas usam o cartão de crédito.

Dentre os inúmeros motivos (ex.: controle de gastos, compras online, etc) um deles é pelo fato de grande parte dos cartões acumularem as chamadas milhas, que podem ser gastas posteriormente em viagens, produtos, ou até vendidos por dinheiro.

A discussão que quero introduzir é que hoje possuímos opções de cartão de crédito sem programa de milhagens, mas também sem anuidade.

Dentre as possibilidade, temos as opções da moda:

E também diversas outras opções, dentre elas:

Diante dessa oferta, será que vale a pena pagar anuidade e ter um cartão com milhagens?

Para saber direito, só fazendo as contas

Hoje existem muitos programas de milhas, muitas bandeiras de cartão e muitos emissores.

Não irei falar sobre cada cartão aqui, vou apenas demonstrar que, para você ter certeza, só fazendo as suas contas de acordo com seus gastos.

Para isso, levante os seguintes dados:

1 – Quantas milhas você acumula por R$ gastos

Os cartões normalmente utilizam a cotação do dólar para converter gastos em milhas (ex.: acumula 1 milha para cada 1 dólar gasto).

Importante: Em alguns cartões, o que se acumula são pontos, e não milhas. E posteriormente estes pontos são trocados por milhas. Fique atento pois muitas vezes a conversão ponto por milha não é 1 para 1 (ex.: No Itaú acumula 1 milha para cada 1,2 ponto).

Conforme o nível do seu cartão aumenta, maior é o acúmulo de milhas por R$ gasto. Há também cartões especiais que acumulam mais milhas (ex.: cartões afiliados a algum programa de milhagem, ou com a possibilidade de turbinar as milhas)

2 – Qual seu gasto médio no cartão de crédito

Anote a média mensal de gastos dos últimos 12 meses, ou mais.

3 – Limitações e regras do acúmulo e transferência de milhas

Muitos emissores definem um valor mínimo (ex.: mínimo de 10 mil milhas) que é necessário para transferir as milhas. Fique atento nestas limitações.

Nem sempre o emissor permite transferir milhas para todos os programas de milhagens. Verifique se, por exemplo, a companhia aérea que você deseja está na lista.

É comum ter vencimento das milhas acumuladas. Se você não transferir do seu cartão para o seu programa de milhagem antes disso, você simplesmente perde as milhas acumuladas. E estas milhas também possuem vencimento depois de transferidas.

A conclusão parcial deste item é a seguinte: se você não gasta o suficiente para acumular uma certa quantidade de milhas por ano, talvez não valha a pena porque as milhas irão expirar antes que você acumule o mínimo necessário para transferir ou trocar por alguma passagem.

4 – Anuidade do cartão: descontos ou isenção

A grande maioria dos cartões permite negociar a sua anuidade, isso porque a anuidade é apenas uma das fontes de renda dos emissores. Eles ganham principalmente com uma taxa cobrada diretamente do vendedor.

O desconto dependerá de diversas variáveis, como gastos médios no cartão de crédito, investimentos no banco, relacionamento com gerente, habilidade de enrolar a atendente e etc., e muita vezes pode ser isenção total.

Importante: Se você tem desconto/isenção na sua anuidade do cartão em troca de algum investimento ou produto do banco, você tem um custo de oportunidade embutido por investir em um produto ruim, e muitas vezes ele não é desprezível.

5 – Custo de oportunidade

Não entrarei na discussão da legalidade ou não desta prática, mas hoje existem diversos sites de compra de milhas. Eles atuam em uma “zona cinza” de legalidade, mas de qualquer forma servem ao nosso propósito: medir o quanto vale financeiramente as milhas.

Fiz uma pesquisa agora em alguns sites e cheguei ao seguinte valor na média de diversos sites: R$ 200 por 10.000 milhas acumuladas.

Lembrando que estes valores variam bastante dia-a-dia (ex.: ano passado era mais alto este valor pago por milhas), principalmente com promoções, ofertas e demandas, mas iremos utilizar este valor em nossas contas.

Concordo que o mais justo seria fazer uma pesquisa sobre valores de passagens, valor de troca de produtos e etc, mas devido à grande variação, esta é uma forma mais fácil de chegarmos a uma conclusão.

Conclusões

É possível chegar a diversas conclusões, e elas vão variar principalmente de quanto você gasta e do seu tipo de cartão.

Lembrando que aqui estamos considerando apenas as vantagens financeiras de ter acúmulo de milhas no cartão.

Não estou considerando outros eventuais benefícios que o cartão pode te oferecer, nem muito menos o status que talvez ele te proporciona (acredite, muitos dão valor para isso).

Conclusão 1: A anuidade tem que ser mais barata que o quanto que você acumula de milhas

A primeira conclusão (óbvia) é que, para o cartão valer a pena, você precisa acumular uma quantidade de milhas que possuam valor igual ou superior a anuidade do cartão.

Ex.: Se a anuidade é R$ 200 (já com eventuais descontos), você precisaria acumular cerca de 10.000 milhas no ano no mínimo para o cartão começar a valer a pena. Se acumulad menos que isso a resposta é simples: não vale.

Conclusão 2: É preciso gastar pelo menos R$ 3 mil por mês

A segunda conclusão é que, para muitos, não é tão simples assim acumular estas 10.000 milhas no ano.

Para um cartão que tenha conversão 1 dólar para 1 milha, e com o dólar a R$ 3,50, é preciso gastar um pouco mais que R$ 2,9 mil por mês na média, o que não é pouco.

Desta forma conclui-se que se você não gasta mais que R$ 3 mil por mês e não tem isenção da anuidade do seu cartão, provavelmente é melhor você ter um dos cartões de crédito sem anuidade e sem programa de milhagem.

Conclusão 3: Acumular milhas significa ter um desconto de 0,57%

A terceira conclusão é que, usando os valores das conclusões anteriores, eu tenho um desconto de R$ 200 a cada R$ 35 mil gastos.

Considera um cartão com isenção de anuidade, isto é equivalente a aproximadamente 0,57% de desconto, o que me parece muito baixo.

Bônus: Existem cartões que oferecem descontos ou dinheiro de volta ao invés de milhas, eles podem ser mais vantajosos.

Conclusão 4: A inércia pode estar te custando caro

A quarta conclusão é que você está perdendo dinheiro se você:

  • paga anuidade e nunca negociou com seu emissor (eles sempre dão um pouco de desconto, acredite em mim),
  • não gasta o suficiente no cartão para acumular milhas, e elas expiram antes de você acumular ou poder transferir,
  • possui diversos cartões e gasta pouco em cada um deles, e cai no item anterior,
  • gasta muito e nunca procurou ter um cartão melhor (que acumula mais milhas) ou ter descontos de anuidade.

Conclusão 5: Quando vale a pena ter cartões com acúmulo de milhagem

A quinta conclusão é que, para quem tem um cartão com conversão de milhas e anuidade razoáveis e gasta bastante, pode valer a pena sim. Neste caso os valores de conversão mudam e os custos de oportunidades se tornam mais razoáveis.

Basta você fazer as contas, pechinchar a anuidade, acumular suas milhas e ser feliz viajando “de graça”.

Conclusão 6: Cartões com isenção

A sexta conclusão é que, se você tem isenção de anuidade, o seu custo de oportunidade é zero. Isto é, você não tem nada a perder ao acumular milhas no seu cartão de crédito.

Mas lembre-se que esta isenção não pode ser atrelada a uma troca (ex.: um investimento ruim no banco, e etc), e sim a um benefício (ex.: benefício de empresa, ou gastos suficientes para isentar a anuidade)

Conclusão das conclusões

Na minha humilde opinião, se você não tem gastos elevados todo mês (por volta de R$ 5 mil de média no mínimo), muito provavelmente não vale a pena ter um cartão com milhagens. O trabalho que você tem para ter desconto com anuidade, transferir milhas e etc não compensa o retorno.

Minha recomendação para as pessoas que gastam menos que isso (a grande maioria da população) é fazer um cartão sem anuidade e não se preocupar mais com isso.

Agora, se você tem isenção de anuidade por algum motivo, não custa nada, certo?

Bônus do artigo

Encontrei na internet uma calculadora de milhas, que calcula o seguinte:

  • Quanto é necessário gastas para acumular pontos
  • Em quantos meses consigo acumular X pontos
  • Quantos pontos consigo acumular

Não sei o quanto ela está atualizada, mas já dá para ter uma boa ideia, e até comparar com outras opções

Segue o link: http://www.proteste.org.br/calculadora-de-milhas

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Vitor Nagata é editor do Blog do Investidor e profissional da área de investimentos.

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31 COMMENTS

  1. Parabéns pelo artigo, muito bom!

    Gostaria de recomendar uma comparação entre cartões cashback x cartões que acumulam milhas (desconsiderando a anuidade entre eles).

    Abraços!

  2. Excelente artigo, Vitor! Parabéns! Estava justamente procurando artigos sobre este tema de milhagens, saber se vale a pena os cartões de crédito para ganhar milhas.

  3. Não esperava que o valor necessário de gastos para se manter um cartão com milhas fosse tão grande. Ainda bem que o meu não cobra anuidade e sem venda casada.

  4. As vezes pesquisar uma passagem aerea consegue uns R$ 70,00 e a vantagem das milhas se vão. As vezes tb preferir usar credito do que o debito pra acumular pontos pode fazer com que o orçamebto saia do controle.

    • Fabio, muito obrigado pelo comentário!
      Cada um é cada um, mas eu prefiro concentrar meus gastos no cartão de crédito, pois assim tenho mais controle.
      Abs!

  5. Ano passado, quando fui trocar minhas milhas por produtos, fiz o cálculo do valor das milhas e constatei que a maioria das trocas resultava em um valor próximo a 50 milhas por real, exatamente o número que consta na postagens.
    Alguns produtos permitiam trocas ligeiramente mais vantajosas (47 milhas por real), outros, trocas desvantajosas (70 ou mesmo 80 milhas por real), mas a maioria ficava próximo do 50 para R$1,00.
    Passagens costumam ter uma relação de troca bem melhor (30 para cada real), mas apenas quando considerado o preço cheio. Como as companhias aéreas volta e meia mudam os preços, imagino que, considerando os valores promocionais, a relação 50 para 1 se mantenha.

    • SO, muito obrigado pelo comentário!
      Interessante essa “conversão”: 50 milhas pra 1 real. Ela pode facilitar na hora de ver se vale a pena ou não comprar uma passagem.
      Abs!

  6. O cartão Saraiva tbm tem um programa de milhagem que, apesar de bem ruim (a cada 2 US$, 1 ponto no programa), pode ser uma opção razoável por não cobrar anuidade.

    • O Santander Free é parecido, a cada R$5,00 você acumula 1 ponto.
      Tem que ficar esperto, que a anuidade é gratuita no caso de gastar no mínimo R$10,00 ao mês, caso não atinja o valor, receberá 1/12 de uma anuidade.

    • Andre, muito obrigado pelo comentário.
      Entrei nesse site, e é uma proposta interessante, mas com certeza as taxas e juros cobrados devem ser altíssimos.
      Obrigado!
      Abs

  7. Muito bom o texto! Eu acabo de voltar pro Brasil permanentemente e estava buscando um artigo legal que explicasse se vale mais a pena ir pra uma coisa sem anuidade ou com. Depois de fuçar um pouco, encontrei esse texto que foi excelente!!!! problema resolvido.

  8. Excelente texto! Muitos ficam inseguros quanto a esses cartões exatamente pela falta de conhecimento sobre. Espero que o conteúdo seja levado a muitos brasileiros.
    Abraços,
    Gustavo Woltmann