Como escolher uma previdência privada

9
15223
Tipos de previdência privada

O artigo anterior já apresentou algumas informações importantes sobre previdência privada. Recomendo a leitura prévia daquele artigo antes de prosseguir. Vamos focar agora nos itens mais importantes para avaliar um plano de previdência: quem pode te auxiliar, como escolher PGBL ou VGBL, como escolher a tributação progressiva ou regressiva, como escolher o tipo de investimento e quais taxas são aceitáveis.

Previdência privada: vale a pena ou não?

De maneira geral, não. Mas a resposta correta varia de pessoa para pessoa, de plano para plano.

Talvez soe estranho, os planos de previdência privada são veículos muito pouco eficientes para poupança de médio e longo prazo. As seguradoras cobram um monte de taxas, e as regras são pra lá de engessadas.

Também é importante ter em mente que para valer a pena, é necessário planejamento de longo prazo.

Se você está pensando em aplicar, pesquise bem antes, e eventualmente consulte um profissional. Veja abaixo o perfil do profissional ideal.

Se você já tem recursos alocados em previdência privada, calma. Não resgate de imediato, pois isso pode custar caro! Avalie as alternativas disponíveis. Muitas vezes uma realocação dos recursos pode melhorar bastante a situação e valer mais a pena do que resgatar.

Quem pode auxiliar com previdência privada?

Se engana quem pensou no gerente do banco. Busque um profissional qualificado.

O profissional com formação adequada para te ajudar é aquele com certificação CFP®. Para obter essa certificação, o profissional precisa passar por 6 módulos: planejamento financeiro e ética, gestão de ativos e investimentos, planejamento de aposentadoria, gestão de riscos e seguros, planejamento fiscal e planejamento sucessório.

Esses são profissionais que investiram em sua formação, que estudaram esses assuntos em profundidade, que participam de programas de educação continuada obrigatoriamente, etc. Talvez não seja a opção mais barata, mas é o custo de ser bem assessorado.

Uma alternativa mais barata é buscar conhecimento. O custo financeiro talvez não seja tão elevado, mas vai “custar” boas horas de estudo. E tem o fator experiência, que fica um pouco a desejar.

Infelizmente o que costuma acontecer é que as pessoas fecham seus planos de previdência no banco, com o gerente ou com aquele “especialista em previdência que trabalha dentro da agência”.

Em relação aos gerentes de banco, é simples: eles não tem formação pra te ajudar. E eles tem metas definidas pelos bancos. Lembre-se: eles trabalham para o banco, não para você. Os treinamentos deles são para melhorar o resultado do banco, e não para escolher o melhor produto pra você.

Já em relação aqueles “especialistas em previdência”, eles conhecem um pouco mais os produtos. No entanto, o grande problema é que eles só vendem os planos daquele banco. Ou você tem esperança de ir numa agência do banco vermelhinho e ele confessar que o plano do banco laranjinha é melhor? Esquece…

Normalmente os profissionais que podem te ajudar estão vinculados a plataformas independentes, e trabalham com planos de previdência de vários gestores.

Exemplos de plataforma independentes são: XP, Rico, Órama, etc. E na página do IBCPF, tem uma lista de profissionais com certificação CFP® pra você escolher.

Quanto tempo leva para decidir?

Leve quanto tempo precisar. E na dúvida, não faça nada: não aplique e nem resgate.

Dada a complexidade do tema,  é de se esperar que tenham várias idas e vindas.

Tipo de plano e regime tributário

Quando você escolhe uma previdência privada, antes de pensar no tipo de investimento você precisa decidir se é VGBL ou PGBL, e se o regime tributário é progressivo ou regressivo. Acredite, essas escolhas são importantíssimas. Não dá para mudar nenhuma delas depois de investido.

O que é melhor: PGBL ou VGBL?

Se for pra aplicar em previdência privada, frequentemente o PGBL é a melhor opção do que o VGBL. Mas pra isso, tem um monte de observações.

O PGBL é o tipo de plano que você será tributado no momento do resgate, e o imposto é cobrado sobre o valor integral resgatado.

Sim, é nesse tipo de plano que se você aplicar num dia R$ 10.000 e resgatar no dia seguinte, pode ser que você receba apenas R$ 7.000. Não parece um grande negócio, certo?

A vantagem do PGBL é que se você fizer a declaração de IR anual na forma completa, você pode aplicar até 12% da sua renda tributável anual e reduzir esse valor aplicado da base de cálculo no momento de fazer a declaração de IR. Não é que você não paga o IR, você pode diferir e eventualmente pagar uma alíquota menor no longo prazo.

Exemplo: se você tiver uma renda anual tributável de R$ 100.000, você pode aplicar em PGBL até R$ 12.000 e reduzir esse valor da base de cálculo. Isso deve gerar uma restituição de IR de uns 27,5% do valor aplicado no PGBL naquele ano, ou cerca de R$ 3.000. É como se esse dinheiro voltasse para você no momento da restituição, mas esse imposto será cobrado sobre o valor total no momento de resgatar a previdência.

É isso mesmo: para você receber R$ 3 mil de restituição, você tem que aplicar em PGBL uns R$ 12 mil. E ainda depende de um monte de outros critérios: não passar dos 12% da renda tributável, só vale a pena para quem faz a declaração de IR na forma completa, etc.

A renda tributável que compõe a base de cálculo do IR geralmente abrange o salário (caso você seja funcionário de uma empresa) e alugueis de imóveis. Em geral, você recebe essas informações no ano seguinte, no início de março, quando você recebe os Informes de Rendimento. No entanto, para valer num determinado ano, você tem que fazer essas contas e tomar uma decisão antes do dia 31/dezembro.

Observe que a pessoa que for te auxiliar precisa saber na vírgula tudo que você ganha para poder te ajudar de verdade.

Além disso, note que se você fizer a aplicação em um PGBL e depois fizer a declaração de IR na forma simplificada, você terá jogado todo o benefício no lixo.

Já o VGBL é o tipo de plano que você será tributado apenas sobre os ganhos.

O VGBL também independe da forma como você faz a declaração de IR, se é completa ou simplificada. Consequentemente, você também não precisa se preocupar com os 12% da renda tributável.

Isso significa que o VGBL é melhor? Aí que está: não!

E o motivo é simples: normalmente, se você pode aplicar no VGBL, é porque você pode aplicar em muita coisa melhor!

É possível que num planejamento sucessório bem feito tenha uma pequena parte do seu patrimônio aplicado nesse tipo de opção, para explorar algumas vantagens específicas.

Regime tributário: progressivo ou regressivo?

Existem 2 tipos de regime tributário, e você não pode mudar de opção depois que aplicar. Isso requer um planejamento bem feito antes de tomar qualquer decisão.

Na esmagadora maior parte dos casos, o ideal é o regressivo.

O regime progressivo é aquele em que você será tributado pela sua renda tributável total, aquela que incide sobre os salários e chega a 27,5%.

O nome progressivo vem do fato de que quanto maior o valor resgatado, maior a alíquota de imposto.

Ao optar por esse regime tributário, se você já é tributado a 27,5% no seu salário, ao resgatar da previdência privada você será tributado a 27,5%.

Esse tipo de regime tributário é o ideal para ser resgatado quando suas fontes de renda tributáveis secarem, ou seja, se você parar de receber alugueis e salário.

Idealmente, é o tipo de regime tributário para quem pretende resgatar da previdência privada mensalmente, quando se aposentar e parar de trabalhar, e não receber alugueis. Mas depende de cada caso, um planejamento tributário também pode mudar completamente o cenário.

Geralmente a tributação progressiva não é a mais indicada, pois depende de vários fatores que podem mudar ao longo do tempo.

Além disso, o ideal é perseguirmos regimes tributários que tragam ganhos mais óbvios e certos com o passar do tempo, e não o contrário. No entanto, a decisão do melhor regime tributário pode variar caso a caso, e é por isso que a assessoria de um profissional é altamente indicada.

A tributação regressiva é aquela que a alíquota começa num nível mais elevado (35%!) e cai com o passar do tempo.

Grosso modo, a alíquota cai 5 pontos percentuais a cada 2 anos, até que atinja 10% para aplicações com mais de 10 anos. A tabela abaixo é um resumo das alíquotas em função do tempo.

Prazo da aplicação

Prazo da Aplicação Alíquota de IR
Até 2 anos 35%
De 2 a 4 anos 30%
De 4 a 6 anos 25%
De 6 a 8 anos 20%
De 8 a 10 anos 15%
Mais de 10 anos 10%

 

Em geral, essa é a escolha mais vantajosa, pois depende apenas do tempo que o recurso ficou aplicado. Ela não depende das suas outras rendas e a alíquota cai com o tempo.

Preciso pagar taxa de carregamento?

Curto e grosso: não!

A taxa de carregamento é um percentual do valor que você aplica que é retido pelo banco/seguradora. Hoje em dia, os bancos costumam cobrar isso quando você faz aqueles planos de contribuição periódica.

Eu poderia te contar que os gerentes/corretores geralmente tem bastante espaço para negociar essa taxa de carregamento, ou sugerir estratégias de negociação, mas seria uma grande perda de tempo.

Sendo mais objetivo: se o plano de previdência que você escolheu cobra taxa de carregamento, você está olhando no lugar errado.

Se você realmente for aplicar num plano de previdência, procure em lugares sérios, que jamais vão te cobrar isso. E fique atento se realmente não tem nenhuma taxa de carregamento!

Onde o plano de previdência privada aplica?

Além das escolhas do plano e tributação, você também precisa escolher que tipo de investimento terá. Isso está diretamente relacionado com o nível de risco e retorno que você terá no seu investimento.

Os recursos de um plano de previdência privada, seja ele PGBL ou VGBL, são aplicados em um fundo de investimento.

Assim, podemos dizer que existem 2 aspectos importantes em relação ao investimento em si: qual o nível de risco que você aceita correr e qual o nível de profissionalismo de quem toma as decisões de investimento, o gestor.

Sobre o gestor, existem 2 tipos: os gestores ligados a bancos e os gestores independentes.

Os gestores independentes são aqueles que não estão ligados a um banco específico. Em geral, são equipes com profissionais extremamente qualificados e com interesses mais alinhados com os investidores. Via de regra, esses gestores independentes investem seus próprios recursos de forma significa nos fundos que administram, nas mesmas condições dos demais investidores.

Os gestores ligados a bancos são funcionários do conglomerado do banco. Por estar em uma posição confortável, “escondidos” atrás da marca do banco, geralmente não tem incentivos para buscar o melhor para o cliente. Da mesma forma que o gerente de agência, buscam apenas bater suas metas, que irá beneficiar o banco. É um caso clássico de falta de alinhamento de interesses.

Dito isto, reforço: o ideal é buscar bons fundos, de gestores independentes, em plataformas independentes ou com especialistas.

É melhor uma carteira com Renda Variável ou sem?

Isso vai depender do seu apetite por risco. A regulação dos planos de previdência privada também é bastante conservadora, e por isso tem restrições a investimentos com mais risco.

Num país com taxa de juros tão elevada como o nosso, tenho minhas dúvidas se vale a pena ter ações nesses fundos.

Em segundo lugar, você precisa conhecer o seu perfil de investidor. Dormir mal por causa de excesso de risco ou ficar preocupado com retornos baixos ou negativos eventualmente não vale a pena.

Além disso, para ter ações na carteira, é preciso que alguém faça a escolha dessas ações.

Se o gestor vai comprar qualquer coisa (ações de empresas estatais, por exemplo), ou não é um especialista em ações, não vejo porque ter renda variável nesses fundos.

A taxa de administração importa?

Não deveria importar muito: o retorno dos fundos é sempre divulgado após descontar as taxas. Se a taxa for muito pesada, o rendimento do fundo será bem baixo.

Mas aqui no Brasil, as taxas são grotescas, sobretudo nos planos comercializados pelos grandes bancos. Compare as taxas dos planos de previdência com as taxas de um fundo normal.

A técnica de venda dos maiores planos, que tem retornos péssimos, normalmente abusa de estratégias que miram o lado emocional do cliente e ignoram os aspectos mais técnicos.

Me diz: quantas vezes você já viu uma propaganda de previdência enfatizando os ótimos retornos? Eu nunca vi… E quantas vezes você já viu propagandas de previdência com pessoas viajando, felizes, curtindo a vida?

O que não te contam é que aquelas pessoas felizes da vida são as pessoas que te vendem esses planos, e não quem aplica neles… Haha

Exemplos práticos

No próximo artigo, vou mostrar os aspectos que precisam ser vistos naqueles planos oferecidos pelos empregadores, e dar vários exemplos de como fazer escolhas de planos pra valer, aplicando o que foi discutido neste artigo. Cadastre seu e-mail abaixo pra ser avisado quando o novo artigo sair!

Ulisses Nehmi é editor do Blog do Investidor e profissional da área de investimentos.

LEAVE A REPLY

9 COMMENTS

  1. muito bom o artigo., As minha duvida são:
    – tenho um plano VGBL de contribuições mensais e outro VGBL de contribuição única para ambos 15% do rendimento é em renda variável e o regime de tributação progressiva, ambos foram feitos a oito anos e pretendo resgatar integralmente em 2019 quando pretendo parar de trabalhar. Será que devo resgatar agora e aplicar no tesouro direto? também fico indignado com a falta de transparencia do banco que não consegue me informar separadamente rendimentos renda fixa e variável.

    • João,
      Eu explorei no artigo que só um profissional que consiga sentar com você pra avaliar toda a situação pode dar uma recomendação adequada pra cada pessoa.
      Mas em termos gerais, se a tributação é progressiva, isso significa que o melhor seria resgatar aos poucos, com o tempo, e quando você já não tiver mais recebendo salário… Resgatar integralmente em 2019, por exemplo, levaria a uma cobrança de IR sobre os ganhos numa alíquota bem elevada!
      Já se fosse a tributação regressiva, para os investimentos com 8 anos estaria na alíquota de 15% (boa), e em 2019 estaria na alíquota de 10% dos lucros. São cenários bem diferentes, e nesse último seria muito mais eficiente.
      Abs

  2. Ola João, estou optando por um investimento da Mapfre Madrid VGBL CSHG JURO REAL, com investimentos mensais de R$ 1800,00, depois da sua explicação fiquei com duvida de opto para essa previdência ou permaneco apenas no tesouro direto.
    Abraços