Compras: gasto ou investimento?

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Carro

Acredito que nessa época de entrega de Declarações de Imposto de Renda seja bastante oportuno falar um pouco sobre a diferença entre gastos e investimentos.

É muito comum ouvirmos que uma pessoa “gasta” R$ 2.000 de aluguel e condomínio. Outra pessoa pode dizer que “gasta” R$ 1.500 por mês na prestação do carro ou de um imóvel. A pergunta é: ambos são “gastos”? É tudo a mesma coisa?

Ambos são desembolsos de caixa, pois o dinheiro sai da sua conta corrente – quanto a isso não há discussão! No primeiro caso, porém, talvez seja mais do que óbvio que o pagamento do aluguel é um gasto, parte do seu custo de vida. Essa pessoa não está adquirindo nada, apenas o direito de usufruir do imóvel por um determinado período de tempo (aquele mês), mas não tem a propriedade do imóvel de fato. Esse dinheiro não voltará para o seu bolso, infelizmente.

Já no segundo caso, no entanto, está sendo paga uma prestação da compra de um bem (móvel ou imóvel). Apesar de muita gente relacionar o uso da palavra investir exclusivamente com a compra de ações, títulos, poupança ou cotas de fundos, pagar uma prestação também é investir, e não gastar! Ao pagar essa parcela, a pessoa está acumulando patrimônio, transformando seu dinheiro em um bem (ou ativo) que pode render frutos futuros.

Mesmo com essa idéia esclarecida, algumas pessoas ainda questionam: “Ok, chamar a compra de um imóvel de investimento até vai, mas um carro perde valor com o tempo. O carro também é um investimento?” Em ambos os casos, você pode vender esses bens posteriormente e, portanto, recuperar algum dinheiro, independente de ser mais ou menos do que o valor pago inicialmente. Esses ativos têm características diferentes, claro, mas isso ainda não será abordado nesse artigo (aguarde!).

Em geral, classificamos os bens em duráveis ou não-duráveis. Damos o nome de bem não-durável ao que não é muito caro ou perde seu valor rapidamente. Quando compramos esse tipo de bem podemos falar que “gastamos” dinheiro com ele. Um celular é um bom exemplo de gasto: em geral usamos até quebrar ou ficar obsoleto, e acabamos o descartando, não recuperamos esse dinheiro.

E por que falei da Declaração de Imposto de Renda no início do artigo? Justamente porque para os bens duráveis, que esperamos ter algum valor no futuro (mesmo que seja um valor inferior ao pago inicialmente, como um carro), temos que declarar sua propriedade na seção de Bens e Direitos do Imposto de Renda, pois fazem parte do nosso patrimônio. Imóveis, carros, jóias de alto valor ou obras de arte são declarados para não serem desfavoravelmente tributados quando vendermos esses bens no futuro. No entanto, ninguém declara celular, computador, mesa, cadeira, etc, no Imposto de Renda. Isso pode ajudar a definir se um desembolso é um “investimento” ou um “gasto”.

Aproveito para terminar o artigo apresentando uma estratégia de poupança (acumulação de patrimônio) para pessoas que costumam gastar tudo o que ganham ou que não tem a disciplina de investir seu dinheiro: compre um bem durável, de valor elevado, em prestações. De preferência, que seja um bem que possa manter ou aumentar seu valor com o tempo, como um imóvel, e que não tenha juros extorsivos embutidos nestas prestações. Você pode até interpretar essa prestação como um “gasto”, uma “obrigação mensal”, mas pelo menos o dinheiro estará sendo investido, acumulado para o futuro! Talvez não seja a estratégia mais eficiente, mas pode ajudar muita gente com esse perfil. Tenho o costume de parabenizar essas pessoas, pois bem ou mal estão pensando no futuro e acumulando patrimônio, ao invés de gastar esse dinheiro, sem retorno algum.

Ulisses Nehmi é editor do Blog do Investidor e profissional da área de investimentos.

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