O padrão de vida do recém-casado

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Limousine para que? O que importa é amor!

Já ouviu falar no ditado “pai rico, filho nobre, neto pobre”? É claro que é apenas uma frase de efeito e até um tanto exagerada, mas é algo mais comum do que você imagina, principalmente no Brasil.

Não estou falando que filhos de pais ricos tendem a ficar pobres, longe disso. Estou apenas levantando uma característica comum a muitas famílias, que ao tentar proporcionar conforto e qualidade de vida aos seus filhos, acaba por deixá-los “mal acostumados”.

Citei no artigo Por que você não é rico? um exemplo:

– Você elevou seu padrão de vida rapidamente

Lembre-se de que é fácil elevar o padrão de vida, mas é muito difícil retornar ao padrão de vida anterior. Muitos jovens de classe média possuem como mínimo o padrão de vida dos pais. Lembre-se de que eles trabalharam durante muito tempo para poder viver desta maneira

Este é um comportamento bem típico do recém-casado brasileiro. Muitos de nós vivemos na casa dos pais até o dia anterior ao casamento, e temos até uma desculpa padrão: “estou economizando dinheiro”. O problema está na hora que saímos de casa e compramos uma casa/apartamento. Nesta hora nos endividamos e passamos a arcar com muitas despesas que não deveríamos ter, tudo isto para mantermos o padrão de vida que tínhamos anteriormente.

Ouvindo palestras do Gustavo Cerbasi, me atentei bastante a um comentário dele sobre recém-casados e o ditado “quem casa quer casa”. O jovem casal precisa provar aos pais (principalmente da menina) que casaram de forma responsável, que tinham condições de sustentar facilmente uma vida confortável, ter uma casa própria, carro e etc., caso contrário não haveria motivos para sair de casa.

Mas não é bem assim: são poucos os que aos 30 anos tem dinheiro para comprar uma casa à vista, e assumir uma dívida muito grande e de prazo muito longo não parece razoável. Nem o jovem no início da carreira sabe o que quer direito da vida ou em que empresa vai trabalhar, nem a nova família sabe ao certo que tipo de lar precisa.

Tenho muitos amigos estrangeiros que não compreendem como podem tantos brasileiros morar com os pais até o casamento. Lá fora é normal sair de casa ao entrar na faculdade e nunca mais voltar ou receber dinheiro dos pais. Além da liberdade, ao sair de casa todos se deparam com as mesmas dificuldades e esforços para obter até as coisas mais simples, ou que pareciam ser simples. Todos rebaixam o seu padrão de vida, para aos poucos conquistar melhoras no mesmo, de forma gradual e sustentável.

Não estou falando que o modelo brasileiro de criar os filhos por mais tempo está errado financeiramente, até porque a desculpa já citada (de guardar dinheiro) quando for verdadeira se traduz em benefícios em termos de investimentos. Mas talvez o compromisso (ou desejo) de se manter em uma escada sempre ascendente de padrão de vida pode retardar e até impedir os mesmos de adquirirem a tão sonhada independência financeira.

Padrão de vida ou conforto?

Todos nós gostamos de conforto, aliás, este é um dos principais motivos para trabalharmos, então por que não tê-los? O objetivo deste artigo não é estimular você a não ter confortos, e sim analisar quando são os momentos certos para conquistá-los.

Pense bem no padrão de vida que você tem condições de sustentar ao casar e sair de casa. Pense que abaixar seu padrão de vida de forma racional é infinitamente mais fácil do que fazê-lo de forma forçada.

Pensando nisso, será que vale a pena:

  • Trabalhar apenas para pagar suas contas?
  • Ter um alto padrão de vida no início da vida, mas demorar mais para atingir a independência financeira?
  • Ter confortos incompatíveis com sua renda?
  • Morar no mesmo bairro que seus pais?
  • Ter as mesmas facilidades que na casa de seus pais (ex.: empregada diária, TV a cabo)?
  • Possuir os mesmos bens que seus pais (ex.: 2 carros por casal)?
  • Ter os mesmos gastos que seus pais (ex.: viagens e restaurantes frequentes)?
  • Comprar uma casa grande, pensando no crescimento da família no futuro,e comprometer ainda mais sua capacidade financeira?
  • Comprar uma casa menor, contando com uma mudança em algum tempo, e ter custos e dores de cabeça associados à venda do imóvel para compra de um novo no futuro?
  • Comprar ou alugar uma casa? Deixarei este último ponto para discussão em um artigo futuro.

E você, o que acha? Compartilhe conosco sua experiência.

Vitor Nagata é editor do Blog do Investidor e profissional da área de investimentos

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34 COMMENTS

  1. minha irma casou e financiou uma casa linda em 30 anos. por obra do destino ela foi assaltada e ficou mais de 12 horas presa no banheiro enquanto que os assaltantes levavam tudo. agora ela ta traumatizada, nao quer mais voltar pra casa antiga, mora com os pais e esta com uma divida de 30 anos! tudo bem que foi obra do destino, mas e so um exemplo de como se endividar pra muito tempo nao e muito bom, prefiro alugar!!!!!!!!

    • Leandro,
      Estou preparando um artigo sobre a comparação entre alugar e comprar uma casa.
      Sobre o exemplo de sua irmã, realmente foi um infeliz imprevisto que todos nós estamos sujeitos! Tirando o fato do evento ter sido triste, o que tiramos de lição é que endividamentos de prazo muito longo não são recomendados nunca.
      Abs!

    • Perai, to sem entender! Quer dizer que os ladrões levaram a casa dela no bolso? Eu entendo que ela ta meio aperriada pra recuperar os bens (pelo menos os mais importantes). Mas não necessariamente ela tem um DÍVIDA pra 30 anos. Ela ainda tem a casa. Por mais que ela se aperte pra conciliar as despesas do assalto com as despesas do financiamento, ela sempre terá a casa como sua e não está em tanto prejuízo assim.

      • 1) Ela ficou traumatizada com o evento, sempre q entra na casa ela lembra do q aconteceu e revive o momento, por isso ela naum quer mais entrar lá.

        2) A casa obviamente naum é segura o suficiente. Ela tem medo de ser assaltada de novo.

        Em vista disso, ela naum quer mais a casa. Se fosse alugada, ela pagaria a multa e entregaria, e estaria livre. Se fosse quitada, pelo menos ela naum estaria com a renda comprometida na casa.

        Agora, ela naum mora na casa, mas continua pagando, paga todo mês sem poder usar. Ela poderia botar no aluguel ou tentar vender, mas ambos dão muito mais trabalho q nas opções anteriores.

  2. As boas intenções…
    Que pai não pensa: “Vou dar mais condições pros meus filhos, pra viverem bem, ter um bom nível de vida e não sofrer como eu sofri.” Mal sabem que as vezes a melhor das intenções se transforma no maior dos problemas!
    Dar condições é dar educação. Mostrar o valor do dinheiro. Mostrar como ele poderia chegar ao mesmo nível dos seus pais partindo do zero… e aí sim, consciente disso, permitir que seus filhos partam de um nível maior.
    Tentar manter o padrão de vida dos pais é o maior erro que os filhos podem cometer. É o caminho para tardar na acumulação de bens (consequências na aposentadoria), para se afogar em endividamentos, para criar problemas ainda maiores nas gerados futuras, etc.
    Não significa só viver para trabalhar. Significa equilíbrio. Como não dá pra reduzir o nível de vida, só aumente de pouquinho e gradualmente. Use os juros compostos a favor, e não contra!
    Abs

    • Falou tudo, belo complemento!
      Mais uma vez o ditado (não me lembro como é exatamente): “Juros: existem os que pagam e os que recebem, escolha bem em que lado você quer estar”
      Abs

  3. Artigo muito interessante.
    Parabéns.

    Eu concordo com o modo estrangeiro de educação somente nesse quesito. O filho sair de casa muito cedo para estudar e ter que correr atras do seu sustento e ainda ter que ganhar conhecimento e ainda por cima honrar com seus compromissos.
    Mas tudo aí que você falou é consequência de uma sociedade que não trata o dinheiro como ele realmente deveria. Não se ensina nas escolas a criança a lidar com dinheiro e, isso é errado. Educação financeira deveria ser matéria obrigatória nas escolas. De preferencia no ensino fundamental.

    Eu sou hoje um jovem empresário que luta pra e estuda demais pra aprender a lidar com dinheiro. Ainda tenho muito que aprender, mas se eu tivesse aprendido cedo isso, talvez meu caminho tivesse sido diferente.

    Parabéns pelo blog.

    Abraços.

    • Teófilo,
      Concordo 100% com a idéia de ensinar as crianças sobre dinheiro bem cedo. Em Cingapura eles já fazem isso por exemplo. Mas acredito que não é só um papel da escola, e sim nosso também!
      Eu não tive esta educação desde pequeno, mas vejo alguns amigos meus (o próprio Ulisses) que tiveram, e o quanto que isto foi benéfico para eles.
      Abs!

  4. Excelente reflexão. Morei um tempo na Austrália neste ano e pude perceber o choque de culturas entre nós e eles quando o assunto é independência. Senti que eles têm uma qualidade de vida muito maior que nós com menos. Se têm um carro de 5 mil ou um de 30 mil dólares ou não têm nenhum e dependem de transporte público, está tudo bem. Você é o que você acredita, o que faz e não o que você espera mostrar através do que tem, como acontece aqui no Brasil (salvo raras exceções).
    Acho que entramos em um círculo vicioso onde o status é um dos principais drivers de todos as relações. Quantas e quantas pessoas comprometem parte de sua renda financiando carros e outros bens simplesmente para transmitir “sucesso” ou que “estão indo bem”… E a matemática por trás de tudo isso? E as altas taxas de juros cobradas nos financiamentos? E o preço “fora da realidade” que os imóveis estão sendo negociados? É para fechar os olhos diante de tudo isso? Eu não…

    Parabéns pelo blog!
    Abraço!
    Pedro

    • Pedro,
      Realmente tudo é resultado de uma cultura imediatista e que não pensa no longo prazo. A discussão sobre este assunto é muito grande, pois muitos valores errados estão presentes na grande maioria das pessoas no Brasil, e não sou hipócrita a ponto de me excluir totalmente deste grupo.
      Aqui, ser bem sucedido e não possuir um carro e uma casa própria não combinam, e alguns dos reflexos disto tudo são exatamente o que você falou: preços ridiculamente altos das casas e carros.
      Abs!

  5. Concordo com o Pedro, morei a vida inteira em sp e estudei sempre em escolar particulares e faz 3 anos q moro em Los Angeles. No entanto, Percebi apenas qdo comecei a morar aqui q essa necessidade de status e viver num padrão alto é muito tipico dos brasileiros.
    Aqui, por incrivel q pareça, as pessoas são mto mais realistas com dinheiro e o ‘way of life’ condizente com o budget de cada um. Talvez pelo motivo deles sobreviverem independentemente desde os 18 anos.
    E eu acho isso incrível e me surpreendi mto com isso.

    • Raponesa,
      Você está sentindo na pele a diferença de uma economia madura e uma em desenvolvimento, e o quanto que isto influi na cultura do povo (e vice versa). E olha que estamos falando do povo mais consumista do mundo, e mesmo assim eles possuem uma noção de economia e realidade maior.
      Abs!

  6. Parabéns pelo artigo. O assunto é muito oportuno. Principalmente, num momento em que os imóveis brasileiros estão supervalorizados, se comparados a qualquer equivalente no resto do Planeta.

    • Xará, peço desculpas por não responder antes.
      Acredito que este assunto deveria ser refletido independente dos valores dos imóveis.
      Abs!

  7. Vitor,
    Acho que tudo na vida deve existir um equilíbrio. E como o assunto é sobre o casal, ambos devem ser responsáveis em manter esse equilíbrio. Se não houver um entendimento por parte do casal, sobre essa questão, é provável que o casamento não dure. Tenho amigos que são casados e que possuem contas separadas, orçamentos separados, meu salário, meu dinheiro. Acho que um casal que está iniciando a vida a dois, deve primeiramente conhecer quais seus objetivos, ou seja, seus sonhos. Aí sim, fazer um planejamento, um orçamento unificado.
    Devemos tomar cuidado também com esse planejar, para que sonhos não fiquem somente no papel. Quando eu e minha esposa decidimos em fazer nossa festa de casamento, nós não tinhamos dinheiro suficiente. Hoje já pagamos quase todas as dívidas do casamento e estamos indo em busca do próximo sonho. Agora com mais tempo para planejar e realizar.
    Quando vamos embora desse mundo, não levamos ações nem dividendos. Mas sim, as memórias boas e as ruins.

    Grande abraço e parabéns.

    • Márcio, peço desculpas por demorar para responder.
      Concordo 100% com sua afirmação, tudo na vida deve ter um equilíbrio. Sempre lembro de uma frase de uma tia avó “caixão não tem gaveta, então não guarde dinheiro pra outra vida”.
      Por outro lado, quem pensa somente em gastar e viver um padrão de vida acima do que pode, independente do que for, não está correto. Também deve haver um equilíbrio neste carpe diem.
      Abs!

  8. Muito legal seu blog.
    estou me interessando por essa area de investimentos e estou pesquisando sobre o assunto e percebi que devemos sempre planejar tudo que queremos, sem metas claras e definidas não chegaremos em lugar nenhum, ainda sou novo(22 anos) mas pretendo sim me juntar com minha namorada para termos uma vida mais independetes dos nossos pais.

    • Ricardo,
      Você está numa idade em que os planos para o longo prazo começam a surgir de forma mais concreta. Provavelmente você deve estar se formando e assumindo novas responsabilidades.
      Agradeço pela participação.
      Abs!

  9. Cuidado ao comparar com europeus.

    é muito fácil (e muito mais antes da crise) se sustentar na europa pq o salario é sempre digno, os programas de apoio social são excelentes, até mesmo uma bolsa de estudo é suficiente para viver. Os custos são proporcionalmente muito menroes em relação à renda, os serviços publicos são plenamente satisfatórios, a qualidade de vida é excelente até para o pobre e a classe média é enorme.

    Se alguem da classe alta quiser criar um filho aqui igual fazem na europa vai perder ou filho ou o dinheiro, ou ambos.

    • Luiz, concordo plenamente!
      Não há como comparar de igual para igual a realidade européia, e a qualidade de vida a custos relativamente menores. Não há como criar um filho aqui da mesma maneira que na Europa.
      Minha intenção foi de exemplificar que muitos jovens no Brasil se endividam precocemente com a intenção de manter ou superar o padrão de vida que tinham anteriormente. Fato que acontece em menor escala em países desenvolvidos, e um dos motivos foi o apontado por você, porém não o único. Há também o fator cultural, a educação financeira e outros.
      Abs!

  10. Ótimo post. Realmente muitos não estão dispostos a abrir mão de um padrão de vida elevado por em sua educação não foram instruídos financeiramente para isso. A escola ensina ciências para no futuro você vir a ganhar dinheiro em alguma profissão, mas não lhe ensina como administrar o dinheiro ganho. Eu acredito que tudo é uma questão de educação financeira.
    http://www.ideiasfinanceiras.com

  11. EU ESTOU NESSA, FUI MORAR COM MEU NAMORADO EM UMA CASA ALUGADA MUITO MAIS HUMILDE DO QUE TODAS QUE VIVI COM MEUS PAIS. TRABALHO E QUERO COMPRAR UM IMOVEL JUNTO COM MEU NAMORADO, A DUVIDA É, COMO É A MELHOR MANEIRA DE COMPRAR SEM PERDER TANTO DINHEIRO COM JUROS? COMO USAR O EQUILIBRIO? SEM GUARDEI DINHEIRO, ATUALMENTE VIVO TENTANDO ENCONTRAR ESSE TAL EQUILIBRIO EM VIVER, SER FELIZ E PENSAR NO FUTURO SEGURO!
    ADOREI OS POSTS, TO MUITO INTERESSADA NA OPINIAO DE VOCES!OBRIGADA.